10 Livros para uma boa formação, por Diego

10 Happiness – Lessons From a New Science – Richard Layard

 

O que quer que estejamos fazendo, estamos fazendo com alguns porques. Sempre que uma criança pergunta porque fazemos alguma coisa, temos que pensar nela em termos de outras, e por sua vez de outras e etc… Mas afinal, porque queremos ser felizes? Ser felizes é um fim, e não um meio como tudo o mais, e por isso é importante por nessa lista um livro que fale sobre os fatores que influenciam isso, e que defende que sim, podemos pensar a felicidade, podemos medir a felicidade, e principalmente podemos modificar a quantidade de felicidade. Ou, como eu costumava dizer, mudar o coeficiente de felicidade geral.

À quem discorde, faço uma citação de Russell, em seu “A conquista da felicidade” “Men who are unhappy, like men who sleep badly, are always proud of the fact.”

9 On Intelligence – Jeff Hawkins

Esse livro tem que ser lido depois dos demais livros de ciência. Ele descreve uma nova forma de pensar o que a inteligência, de uma perspectiva neurológica. E cria finalmente uma teoria a respeito de neurociência, algo que ela carecia a muitos e muitos anos. Sua teoria é muito boa, bem articulada, condizente com a realidade etc… A Memory Prediction Framework deve dominar a neurologia em breve, permitindo que ela ultrapasse a descrição e se torne teoria. Esse cara revolucionou o campo do século 21, e ler isso é o mínimo necessário para saber como pensamos afinal.

8 O senhor das Moscas – William Golding

Me emocionou profundamente nos meus 13 anos. Mostra o carater podre do ser humano em algumas circunstâncias particulares, é um ótimo livro, e uma delícia frenética que prende os órgãos durante a leitura.

7 O Universo Numa Casca de Noz – Stephen Hawking

O que? O Diego? Que gosta de física, falando bem de um populista como Stephen Hawking? Pois é exatamente isso. Fiquei pensando qual seria o melhor livro de física para colocar, pensei nos grandes tomos, no ABC da relatividade do Russell, em livros de autores menos populistas, e em temas mais caóticos como teoria das cordas e quântica. Mas na realidade, o objetivo de ler um livro de física, para a formação, não é a física em si. Mas o tesão pela física. E o Stephen Hawking é uma maquina de tesão pela física. Qualquer um que leia o que ele escreve fica obcecado e achando que física é a coisa mais legal do mundo todo, e que todo mundo devia ser físico. E isso é um grande objetivo. Além do que, o livro dá um bom panorama sobre várias partes da física, fala sobre a exponencialidade da tecnologia e é de uma clareza estonteante.

6 Como a Mente Funciona – Steven Pinker

Se alguém dissesse para uma máquina que ela é uma máquina, qual ia ser a principal curiosidade dela? Saber como ela foi programada, por quem, com que objetivos. Esse livro responde essas perguntas para a máquina humana. E é o mínimo que se espera de uma pessoa normal curiosidade sobre sua própria natureza.

5 Ensaio sobre a cegueira – Ensaio sobre a lucidez – Saramago

Considero esses dois livros como só 1, daí que estejam juntos. A parábola, método consagrado por Saramago no qual uma coisa acontece que modifica profundamente apenas um aspecto do mundo, e todo o resto se mantém, é uma forma genial de compreender e olhar para as coisas do mundo. E esses dois livros parecem absolutamente geniais nesse respeito. Ele escreve tão bem, que as vezes da vontade de parar de entender só para ficar lendo.

4 Humano, Demasiado Humano – Nietzsche

Nietzsche me parece a pessoa mais inteligente da qual já tive notícia. E o que melhor de um ser inteligente que seus sparkles? O que melhor do que aquilo que ele tem a dizer em 4 linhas? Sem qualquer compromisso com a extensão do pensamento? Uma lição de que pensar é algo que pode ocorrer em 5 10 ou 100 palavras, as vezes de maneira muito mais bela do que as centenas de milhares que compõe os grandes livros.

3 Minha concepção do mundo – Ou obras completas – Bertrand Russell

Esse livro não tem nada de especial. O que mais interessa do Russell são os ensaios dele, alguns são simplesmente geniais. Mas o que esse livro tem de bom é que ele mostra como pensa um ser humano que viveu as duas guerras mundias, ele mostra a importância de considerar o ser humano, de ter algum tipo de afecção social. Ele é uma forma de pensar ética muito importante, que se perde muito nos dias de hoje, se perde basicamente porque não temos mais guerras, porque não temos capitalismo e comunismo, e não sabemos dos graus de ameaça que outrora pairaram sobre nosso planeta, e que de forma velada ainda estão aí. Por ser uma entrevista também é extremamente fácil de ler. E o ponto principal é que pode suscitar um desejo de conhecer o autor, que, não escondo o favoritismo, é o maior genio de todos os tempos.

Talvez, melhor do que ler esse livros seja ler tudo que ele escreveu, pulando os capítulos de psicologia, pela única exclusiva razão de que a psicologia não estava suficientemente desenvolvida na época. Russell nos dá a clareza, a precisão, a humildade e a bondade com a humanidade, tudo no cérebro de um matemático que criou uma corrente filosófica e ganhou um nobel de literatura. Um must.

2 Armas Germes e Aço – Jared Diamond

Completude. Esse livro tem como objetivo explicar porque os europeus dominaram o mundo, e não os australianos, ou os africanos, ou os sul americanos etc…. Para isso, ele se utiliza de ecologia, antropologia, biologia, geografia física, filologia e parasitologia. Uma explicação de um fenômeno extremamente complexo, muito bem escrita e articulada, vencedor de um prêmio pulitzer. Tudo obviamente dentro de um viés irrevogavelmente evolucionário, afinal, o que esperar de um cientista que passou 20 anos estudando pássaros.

1 Darwin Dangerous Idea – Daniel Dennett

Esse é o top, não tem como não ser. A idéa mais importante e revolucionária da história do pensamento é a evolução. Ela é foda porque ela transformou tudo. Antes pensavamos que a explicação vinha de cima, e agora de repente ela vem de baixo. Essa inversão muda completamente a forma de pensar tudo, do design a ética, da adaptação à linguagem. Da mais simples cor azul ao sentido da vida, tudo encontra novas formas de se pensar na evolução darwiniana. E nenhum livro explica a evolução em todas as suas facetas e consequências tão bem quanto esse, por isso, ele merece o primeiro lugar.

Visões de mundo opostas em Nietzsche

Me deparei em Nietzsche com duas visões de mundo bastante diferentes.

A primeira é a que vou chamar aqui, talvez com pouco direito, de fisiologismo. Consiste num curto circuito do plano das idéias ao plano fisiológico, como se as idéias não tivessem autônomia mas fossem epifenômenos de movimentos esses sim mais substânciais nas visceras do mundo. As idéias nada são além de ilhas; montanhas subterrâneas que nos aparecem superficialmente como delimitadas e substanciais, mas que se sustentam e devem todo sua existência a movimentos tectônicos mais profundos e sua interação mútua a esses mesmos movimentos, que em nada reflete o que as ilhas são mas sim os humores vulcânicos.

É procedendo assim que Nietzsche faz sua análise do Asceta. O Bem, Deus, as Formas Puras, nada disso é nada além do resultado de gases e outros desconfortos físicos de alguns ascetas ressentidos. Ironia especial pra esse caso onde as mais “sublimes” idéias tem origem vergonhosa. O homem tenta justamente se consolar desse mundo se desnaturalizando, criando outras realidades (transcendentes) e ideais. É claro que os que o farão serão aqueles descontentes com a realidade dada: os doentes, os excluídos, os fracos.

A avaliação do Asceta está na genealogia da moral, e é além de fisiológica, genealógica. Entra em outras questões e pormenores que não nos interessam aqui. Mas no puro fisiologismo a questão que importa é a da saúde e da doença. A avaliação das éticas, um dos pontos nucleares desse autor, será feita a partir desse ponto de vista: quão saudável ou doentio ele é? . Nietzsche adere a uma teoria médica que em grossos termos é como a dos humores: doenças não são fatores exógenos ou mudanças qualitativas, mas sim desbalanços e desequilibrios nos próprios fluídos ou constituintes do corpo (Claude Bernard).É assim também que Nietzsche dirá que os impulsos humanos não tem nenhum valor moral (e fisiológico, portanto) em si, mas sim em relação a uma proporção, além da qual se entra em um estado doentio.

Outra visão de Nietzsche parece nos dizer o contrário. Vou chamá-la, de novo por falta de designação adequada, de Transcendental. Ali onde ele diz que nossas visões são já condicionadas, que todo olhar já é um julgamento moral (e não um dado a ser julgado, como diria o senso comum). A maneira como vemos as coisas, como experimentamos a realidade em geral, depende já de uma constituição mental construída, especialmente se focarmos o sentido moral. Essa visão sem dúvida é tributária a Kant, em cujo sistema o Sujeito ao perceber já da a forma do mundo, é o próprio Demiurgo que carimba a massa amorfa do mundo com selos das mais variadas formas (zebras e zeppelins e dodecaedros agudos) e cria sua própria caverna autista de fenômenos, se aproveitando no máximo dos poucos raios de sol que atravessam o teto para fazer seus próprios animaizinhos de sombra . De qualquer maneira, essa visão de que o próprio sujeito é criador ao menos parcial de seu próprio mundo se encontra muito em Nietzsche, por exemplo ali onde ele comenta sobre os povos europeus e a experiência (seu feeling, seu “tato”) particular de cada país em relação à arte por exemplo. Ou então quando ele diz que os alemães tem olhos mais perspicazes para o vir-a-ser; que são de temperamento mais heraclitiano que pamediniano (e aqui justificado por, entre outros, um fator lingüistico). É aqui que cessa o Nietzsche biólogo disposto a julgar desde o budismo zen até o protestantismo calvinista com seu termômetro saúde-doença e começa o Nietzsche que parece agir de um ponto de vista injustificadamente (pelo seu próprio meio de ação) neutro; capaz de penetrar na maneira de experimentar a realidade (na lente da distorção da visão, se quiserem; e puderem guardar a lembrança que não existe percepção livre de distorção, não como ruído mas como essência própria da percepção) dos outros para entender uma obra, um povo, uma época. Algo similar com aquilo que desenvolve Foucault quando diz que a forma de se experimentar o fenomeno da verdade muda através das eras.

Nagase uma vez, citarei tortamente de memória, me disse que pretendia investigar como em Nietzsche a genealogia é a continuação de uma espécie de jogo de máscaras, ou seja, que buscar os inumeros significados amontoados em cada idéia e fenômeno não levaria ao conhecimento dele (conhecer é conhecer pela causa), e que seria o fisiologismo, o estudo das relações orgânicas subterrâneas o estudo que realmente poderia tirar essas máscaras e expor a fratura do real exposta.

E embora tenha de admitir que talvez a ordem temporal da obra de Nietzsche o fisiologismo vá ganhando peso enquanto o “”transcendentalismo”” vá perdendo, de modo que “O nascimento da tragédia” é admitidamente hegeliano e o “Ecce Homo”, último livro, é onde não só o fisiologismo aparece com mais força em toda obra, mas onde a Alemanha é mais  debochada pelo autor; sugiro que os dois são desenvolvimentos de uma antinomia Schoppenhaueriana:

No parágrafo 7 do primeiro livro Schoppenhauer se debruça sobre o materialismo e o idealismo (de Fichte). O mundo que independe do sujeito, e o tratamento desse como mero objeto enquanto simples agregado de matéria, e o mundo inteiro como criação autônoma do sujeito. Diz as duas serem falsas por se embasarem em suas próprias conclusões, e declara que sendo o mundo representação, não há objeto abstraído do sujeito nem sujeito isolado sem objetos (dada que a representação envolve por definição aquilo que é representado e alguém que pegue a apresentação e a reapresente): “Assim, necessariamente, vemos de um lado a existência de um mundo todo dependente do primeiro ser que conhece, por mais imperfeito que seja; de outro, vemos esse primeiro animal cognoscente dependente de uma longa cadeia de causas e efeitos que o precede na qual aparece como um membro diminuto. Essas duas visões contraditórias, pelas quais somos, de fato, conduzidos com igual necessidade, poderiam decerto ser denominadas uma ANTINOMIA da nossa faculdade de conhecimento”.  O mundo enquanto não é visto por ninguém não tem significação alguma, mas para que surja uma forma complexa capaz de vê-lo, é necessário que ele passe de um estado “simples” (big bang? suit yourself here) à formação dessa estrutura representativa que obviamente não existe, mas confere mesmo o significado retroativo a toda essa atividade passada.

A transição conceitual para Nietzsche ficará mais clara se pensarmos ainda que foi a forma de pensar em antinomias e contradições, típica da época anterior a sua, que abriu espaço para seu perspectivismo. Com a diferença que o perspectivismo permite um crescimento de cada um dos elementos, o proto-fisiologismo (materialismo-objetivismo) e o proto-“”transcendentalismo”” (idealismo-subjetivismo) não enquanto amarrados um ao outro mas enquanto autônomos. Cada um deles fundamenta inquéritos da obra de Nietzsche sem que eles se anulem, e que podem trabalhar muito bem juntos (na Genealogia da Moral por exemplo).

Aguardo no mínimo um post de resposta do Daniel

Complexidade irredutível

Destoando um pouco dos tópicos usuais daqui, estou postando o meu primeiro post no blog. Que por sinal, publiquei também no meu blog particular.

Muitas pessoas tomam a complexidade e a beleza da natureza como evidências da existência de Deus ou de alguma outra entidade inteligente ou superior. Primeiramente, quero mostrar que existe aí um claro viés de observação: O universo é basicamente uma vasta imensidão de vácuo com umas bolinhas de gás lá e cá e nele a Terra parece ser uma incrível exceção; nosso planeta é um lugar muito especial no universo, não conhecemos nenhum outro tão diversificado em formas e estruturas complexas, assim, precisamos tomar cuidado ao tomar a Terra como referência. Nós vemos tanta complexidade porque o surgimento da vida (e nosso) requer tal complexidade; não poderíamos ter aparecido num lugar típico qualquer para observar a não-complexidade do universo. Já o viés da beleza deve-se simplesmente ao fato de vivermos melhor se admirarmos a natureza do que se não o fizermos; isto é útil a nossa sobrevivência e provavelmente foi selecionado por causa disso. Talvez daqui a milhares de anos as pessoas vejam mais beleza nas paisagens artificias porque isto as tornará mais adaptadas. Não é tanto a beleza da natureza que nos impressiona, quanto nós que impressionamos beleza na natureza.

Descontando-se os viéses, é muito interessante que existam tais formas na natureza e conceber o seu aparecimento espontâneo me pareceu completamente implausível até que conheci sistemas muito simples capazes de gerar grande complexidade. Vou dar alguns exemplos:

Os números primos

Os números naturais são os números que usamos para contar: 0, 1, 2, 3, 4, …
É um teorema bem conhecido que todo número natural maior que um pode ser expresso como a multiplicação de alguns dentre estes números, chamados por isto números primos (primeiros). Na verdade os primos são infinitos, mas são poucos comparados aos naturais. Ou seja, alguns dos naturais (os primos) são suficientes para gerar todos os outros por multiplicação. Veja:
2 é primo
3 é primo
4 = 2*2
5 é primo
6 = 2*3
7 é primo
8 = 2*2*2
9 = 3*3
10 = 2*5

No entanto, embora definir os naturais (zero e sucessor) e os primos (números que têm exatamente dois divisores distintos) seja relativamente simples, a estrutura da seqüência dos números primos é extremamente complicada. É muito difícil de se prever a sequência dos primos sem ter de testar a primalidade de uma montanha de números, e os matemáticos têm tentado compreender as propriedades desta seqüência há mais de 2000 anos. É um grande mistério de onde vem tal complexidade:

Descubra o padrão, entre para a história e tenha o mundo aos seus pés.Riemann menos Pi. Obtido em: http://www.secamlocal.ex.ac.uk/people/staff/mrwatkin/zeta/ss-a.htm

A regra 110

Stephen Wolfram inventou um sistema muito interessante de codificar certas regras de gerar padrões em fileiras de quadradinhos (autômatos celulares):

A regra 110A regra é a seguinte: começa-se de uma linha de quadradinhos brancos, com exceção de alguns pretos; para cada quadradinho da linha, compara-se ele com seus vizinhos, e pinta-se o quadradinho abaixo de acordo com a regra. Repete-se para cada nova linha formada. Curiosamente, aparecem padrões como estes:

A regra 110

Regra 126Regra 126: Fractal de Sierpinski
Novamente, não me é claro de onde vem esta complexidade, não me parece estar especificada na definição.

O Fractal de Mandelbrot

Benoit Mandelbrot descobriu que se pegarmos um número complexo c=a+bi, elevarmos ao quadrado, somarmos c, elevarmos ao quadrado, somarmos c, e repetirmos isto infinitamente, alguns destes números c vão para infinito (em pelo menos uma de suas partes), e outros não. Se pintarmos de preto num plano de Argand-Gauss, os números que não vão para infinito, encontramos uma estrutura muito interessante, o conjunto de Mandelbrot:

O conjunto de Mandelbrot
Olhar esta estrutura mais de perto só a revela mais e mais complexa. Acho que este é um caso gritante da complexidade surpreendente que quero mostrar.

Enfim, minha intenção era mostrar que sistemas de definição formal simples podem expressar uma complexidade muito maior do que a intuitivamente esperada, e que não devemos ser céticos em relação a isto. Não é tão surpreendente que a mera dinâmica casual possa ter provocado o aparecimento de estruturas tão complexas quando as vistas na Terra, o surpreendente é que dinâmicas simples possam gerar estruturas tão complexas. Qual é a origem desta complexidade?

Desprovando Hume, num e-mail para Bolzani

Como não sei se articulei as idéias corretamente, nem se entendi direito o que você disse. Resolvi formalizar o que estava pensando. Para deixar claro o meu ponto e evitar mal-entendidos.

Na quinta sessão Hume diz que não há razão para se supor a partir de uma conjunção que algo seja causa e algo seja efeito.
” He would not, at first, by any reasoning, be able to reach the idea of cause and effect; since the particular powers, by which all natural operations are perfomed, never appear to the senses; nor is it reasonable to conclude, merely because of one event, in one instance, precedes another, that therefore the one is the cause the other the effect. Their conjunction may be arbitrary and casual. There may be no reason to infer the existence of one from the appearance of the other.”

Além disso, ele diz que o poder explicativo de dizer que se faz isso pelo hábito se deve ao fato de que fazemos esse tipo de inferência causal quando algo ocorre muitas vezes, mas não fazemos quando ocorrem poucas instâncias de um evento.
” This hypothesis seems even the only one, which explains the difficulty, why we draw, from a thousand instances, an inference, which we are not able to draw form one instance, that is, in no respect, different from them.”

Ou seja, o que ele está dizendo aí é que sua explicação é boa porque ela é capaz de explicar um fenômeno particular. Isso é uma teoria que pode ser testada. Basicamente, ele propõe que fazemos a associação sempre que ocorrem muitas instâncias de um caso, e que essa é a única teoria capaz de dar conta disso.

Essa teoria pode ser desprovada de algumas maneiras. Se por exemplo não fosse o caso que existissem eventos contíguos no tempo. Ela estaria desprovada. Se surgisse outra teoria que abarcasse o mesmo fenômeno e também explicasse uma série de outras coisas, ela seria substituída etc…
Então examinemos o que aconteceria no caso que eu citei em sala de aula.

Suponhamos que alguém fugiu da vela após tão somente uma vez ter se aproximado dela.

O que eu disse foi ” Isso retira o poder explicativo que Hume pretende atribuir ao costume.”

O que você disse foi ” Se não fosse a existência de um princípio do hábito, ou do costume, seria impossível que essa pessoa criasse o hábito de fugir da vela. ”

O que estou defendendo é completamente compatível com o que você está defendendo, mas não consegui me explicar na hora. E faço agora.

Vejamos que o que você estava defendendo é basicamente que existe uma condição necessária para que alguém crie o hábito de desviar de uma vela em chamas. Essa condição necessária é a existência da possibilidade de se ter um hábito. Ou costume.

Isso é um fato, e não há razão para contestá-lo. Mas isso tem algum poder explicativo? Isso demonstra porque o hábito ou o costume são aquilo que nos guia a desviar de uma vela? Não necessariamente. Isso é apenas (para plagiar o franklin e o kant) uma condição de possibilidade para o costume. Não é uma descrição de porque o costume é a perspectiva certa para se pensar o assunto. E não outro princípio da naturezal.
Ou seja, é condição necessária que exista a possibilidade de se ter costumes (por exemplo uma tendência natural). Mas não é condição suficiente para se explicar nada.

O que seria condição suficiente, segundo Hume é o que ele diz, e repito aqui. ” This hypothesis seems even the only one, which explains the difficulty, why we draw, from a thousand instances, an inference, which we are not able to draw form one instance, that is, in no respect, different from them.”

Ou seja. Ele está evocando que a razão pela qual devemos acreditar num princípio do costume, a razão pela qual existe o hábito é exatamente a de que não há outra explicação que seja capaz de diferenciar nosso comportamento em relação a contiguidades particulares e contiguidades repetidas. Suponhamos então que ele esteja certo. Isso implicaria necessariamente que fazemos inferências causais de contiguidades que sempre se repetem. E implicaria necessariamente que não fazemos inferências causais para casos particulares; mas esse parece não ser o caso.

O exemplo da vela extensamente discutido demonstra que não é necessário, em certos casos, mais do que uma experiência para criar o hábito. Outros exemplos também poderiam ser citados (quase-afogamento, envenenamento alimentar). Ora, se existem casos que desviam da hipótese de Hume, ou, mais do que isso, se existem casos que desviam daquilo que Hume usa como sustentáculo de sua hipótese, sua teoria tem de ser considerada uma má generalização. Ou seja, ou ela só é válida para algum subgrupo particular de casos. Ou ela simplesmente está errada e deve ser abandonada.

Minha defesa é de que ela é válida apenas para associações que não dizem respeito a fatores que são extremamente evolutivamente importantes no curto prazo. Pois o princípio de fazer inferências ou associações existe em nós proporcionalmente a razão evolutiva que haja para crer que algo vai interagir causalmente. Ou seja, temos uma tendência maior para acreditar em causa e efeito tanto mais quanto essas causas e efeitos afetarem nossa evolução biológica.

É possível evidenciar claramente o porque a teoria dele há de estar errada com um exemplo mais complexo.

Tomemos os 4 eventos contiguos.

1 Vela acesa
2 Lampada acesa
3 Emissão de um som desconhecido
4 Dor na mão.

Suponhamos que esses quatro eventos se dessem ao mesmo tempo com uma pessoa.

Ela vai até um local, no qual uma vela acence, uma lampada acende ao mesmo tempo, emite-se um som desconhecido, e ela sente dor.
Ela retira sua mão de perto da vela. E o som para e a luz apaga.

No dia seguinte, em um certo horário, uma lampada acende numa sala em que ela está. Ela não prevê dor. (ou seja, Hume está certo. Apenas uma instância, logo nenhum hábito)
Da mesma maneira, a mesma música começa a tocar duas horas mais tarde, noutra ocasião (Mais uma vez, apenas uma instância, nenhum hábito. )
Meia hora mais tarde, ela está passando por um estreito corredor com uma vela, e sua mão, se deixada a esmo, passaria diretamente na chama. A pessoa levanta o braço, incluna o corpo e desvia da vela.

O que temos nesse caso? A prova inelutável de que a tese de Hume está errada, não é válida universalmente. Apenas uma instância, e mesmo assim a criação de hábito.
Mais do que isso, apenas uma instância de uma série de eventos que não são associáveis de nenhuma maneira na razão, no intelecto, e no entanto a criação de um hábito com relação a apenas um deles, e particularmente justo aquele que de fato resguarda uma realação de causa e efeito. Peculiar.

Evidente que se não tivessemos um princípio de hábito, como você disse, isso seria impossível em absoluto. Mas a questão é que a tese que Hume defende não é essa. O que ele defende é que evocar o hábito é a forma correta de se explicar o fenômeno . E isso, considerando os exemplos que pensamos em sala de aula, não é fato. É um equívoco.

Top 10

1. Metafísica, Aristóteles.

2. Critica da Razão Pura, Kant.

3. Fenomenologia do Espírito, Hegel.

4. Teoria Estética, Adorno.

Esses quatro dispensam apresentações. Bem óbvios por sinal, talvez menos a Teoria Estética.

5. Mecânica Quântica, Edusp.
Sinopse da livraria cultura: ‘Mecânica Quântica’ destina-se a estudantes universitários, professores e pesquisadores envolvidos com a física. Os primeiros seis capítulos desenvolvem as principais idéias e a estrutura geral da mecânica quântica. Os capítulos seguintes apresentam tópicos mais específicos, de uso corrente em diversas áreas da física atual. O final de cada capítulo traz uma lista de exercícios e referências bibliográficas.

6. Introdução a Cosmologia, Edusp.
Sinopse da livraria cultura: Baseado no curso de Introdução à Cosmologia, oferecido pelo IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP, este livro utiliza conceitos da física moderna no estudo da cosmologia. ‘Introdução à Cosmologia’ aborda assuntos como – as relações do pensamento científico/filosófico com a cosmologia atual, a expansão e a evolução dinâmica do Universo, a Teoria da Relatividade como instrumento para o entendimento da geometria do Universo, a radiação cósmica, a teoria da Inflação e teorias sobre a formação das galáxias.

7. Feynman lectutes on Physics
Wikipedia: The Feynman Lectures on Physics, by Richard Feynman, Robert Leighton, and Matthew Sands is perhaps Feynman’s most accessible technical work, and is considered a classic introduction to modern physics, including lectures on mathematics, electromagnetism, Newtonian physics, quantum physics, and even the relation of physics to other sciences.

8. Calculus, Apostol
Calculo é a base essencial para grande parte das ciências exatas. Esse é um bom livro de calculo que conheço, acessível e com algumas demonstrações (na verdade perto dos outros livros de calculo que conheço é o que mais demonstra)..

9. Édipo Rei, Sófocles.
Uma das maiores e sem duvida mais clássica tragédia da Grécia antiga.

10. Os Buddenbrooks, Thomas Mann
Narração irônica e detalhista da decadência burguesa na virada do século.

Aproveitando (não queria criar um post só para isso) vou colocar algumas partes interessantes de alguns desse livros e de outros. Talvez elas não fiquem tão boas fora de contexto, mas quem sabe não instiguem a leitura:

“Se não existisse nada de eterno também não poderia existir o devir” Aristóteles, Metafísica Livro terceiro

“E em geral, se só existe o que é perceptível pelos sentidos, caso não existissem seres animados nada poderia existir: de fato, nesse caso, não poderia haver sensações (…), mas é impossível que os objetos que produzem as sensações não existam também independentemente da sensação”.Aristóteles, Metafísica Livro quarto

“Em contrapartida, a forma pura da intuição no tempo, simplesmente como intuição geral, que contém um diverso dado, esta submetido à unidade original da consciência, apenas através da relação necessária do diverso da intuição a um: eu penso; ou seja, pela síntese pura do entendimento, que serve a priori de fundamento à síntese empírica.” Kant, Critica da Razão Pura

“Pois o contentamento com toda a sua existência não é obra de uma posse originária (…), mas um problema imposto a ele por sua própria natureza finita porque ele è carente esta carência concerne à matéria de sua faculdade de apetição…” Kant Critica da Razão Pratica

“O objeto é, antes, sob o mesmo e único ponto de vista, o oposto de si mesmo: para si, enquanto é para Outro; e para outro, enquanto é para si.” GWF Hegel Fenomenologia do Espirito

“O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que pressupõe seu fim como sua meta, que o tem como princípio, e que só é efetivo mediante sua atualização e seu fim.” GWF Hegel. Fenomenologia do Espírito

“A exterioridade em sua imediatez não tem valor para nós, mas admitimos que por trás dela haja algo de interior, um significado, por meio do qual a aparição exterior é espiritualizada. A exterioridade aponta para o que é sua alma. E isso porque um fenômeno que significa algo não se representa a si mesmo e o que é na sua exterioridade, mas representa outra coisa.” Hegel. Cursos de Estética

“Quase tudo que chamamos de ‘cultura superior’ é baseado na espiritualização e no aprofundamento da crueldade – eis minha tese; esse ‘animal selvagem’ não foi abatido absolutamente, ele vive e prospera, ele apenas – se divinizou” Nietzsche, Além do bem e do mal

“A filosofia, que outrora se tornara obsoleta, permanece atual, pois perdeu o momento de sua realização” Theodor W. Adorno Dialética Negativa

“As obras de arte são copias do vivente empírico, na medida em que a este fornecem o que lhes é recusado no exterior e assim libertam daquilo para que as orienta a experiência externa coisificante” Adorno, Teoria Estética

“Toda burrice parcial de uma pessoa designa um lugar em que o jogo dos músculos foi, em vez de favorecido, inibido no momento do despertar.” Adorno, Dialética do Esclarecimento

“O homem é fundamentalmente desejo de ser e a existência deste desejo não deve ser estabelecida por uma indução empírica; ela resulta de uma descrição a priori do ser do para-si, já que o desejo é falta e que o para-si é o ser que é para si mesmo sua própria falta de ser” Sartre, O Ser e o Nada

Germe da negação do sujeito em Kant

Não é necessário recorrer a Adorno e Horkheimer para observar a importância que a experiência tem na formação do sujeito na medida em que ela o nega e o reconstitui. A necessidade destes autores está na crítica dessa experiência na atualidade. Ela é falsa ou verdadeira? Cabe sem duvida recuperar este conceito de experiência para entender o que se quer dizer em Kant e Hegel para entender a experiência. O conceito de dialética fica ai inerente.

O germe da dialética do sujeito, que se consolidou em Hegel: “… tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro [do objeto] não como substancia, mas também, precisamente, como sujeito”, já estava instaurado em Kant. O “eu penso” de Kant deve em sua trajetória da apercepção do objeto ir de passivo de volta a ativo à consolidação como eu penso. Trajetória descrita na seguinte citação: “A unidade sintética da consciência, (…) tem de estar submetida toda a intuição, para se tornar objeto para mim, porque de outra maneira e sem esta síntese o diverso não se uniria numa consciência”. A síntese do diverso, no entanto pressupõe, na constituição do eu penso, um sujeito objeto (passivo): “… me conheço a mim próprio como objeto pensado…”. Este sujeito passivo quando fez a percepção da realidade e se torna objeto, na verdade percebe a si próprio, como posteriormente discorre mais demoradamente Kant, e, portanto se constitui[i]. De fato a citação próxima é um dos poucos momentos em que se fala desse sujeito-objeto até o final do Livro Primeiro da primeira divisão da Lógica Transcendental. Em Hegel esta negação do sujeito será constituinte essencial do esquema do processo dialético. Posteriormente esta negação se torna a própria essência da Dialética Negativa.

O conceito, resultado do abandono da vaidade libertaria do pensamento abstrato frente a materialidade na qual está imersa e é custoso para ela se elevar, só pode ser efetivado no processo dialético sincronicamente a reversão do sujeito enquanto sujeito, que se toma objeto e do retomo deste objeto a si mesmo como sujeito. Processo descrito por Hegel na seguinte passagem: “No seu comportamento negativo, que acabamos de ver, o próprio pensar raciocinante é o Si ao qual o conteúdo retorna; porém, no seu conhecer positivo, o Si é um sujeito representado, com o qual o conteúdo se relaciona como acidente e predicado. Esse sujeito constitui a base à qual o predicado está preso, e sobre a qual o movimento vai e vem. No pensamento conceituai o sujeito comporta-se de outra maneira. Enquanto o conceito é o próprio Si do objeto, que se apresenta como o seu vir-a-ser, não é um sujeito inerte que sustenha imóvel os acidentes; mas é o conceito que se move, e que retoma em si suas determinações.” Neste desenvolver ocorre também o processo em que: “… o sujeito passou para o predicado, e por isso foi suprassumido; e enquanto o que parece ser predicado se tornou um massa inteira e independente, o pensamento já não pode vaguear livremente por ai, mas fica retido por esse lastro.” A experiência foi resumida na conhecida passagem: “Experiência é justamente o nome desse movimento em que o imediato, o não-experimentado, ou seja, o abstrato – quer do ser sensível, quer Simples apenas pensado – se aliena e depois retoma a si mesmo.”

O tema Dialética do Esclarecimento e Dialética Negativa já não são mais o objetivo desse texto. É conhecida a frase “Verdadeiro é o todo” em Hegel e sua reformulação por Adorno “O todo é o não verdadeiro”. A segunda é desenvolvimento da primeira. No próprio pensamento hegeliano da Fenomenologia do Espírito; em que o todo deve ser negado constantemente – pois só no fim é que verdade, fim este igual ao fim do circulo, – negação esta contígua ao cume da totalidade do Saber Absoluto onde o saber a verdade coincidem; há quase uma ambivalência entre o Saber Absoluto e o processo que o constitui: a dialética semovente.


[i] “Ora, como para o conhecimento de nós próprios, além do acto do pensamento que leva à unidade da apercepção o diverso de toda a intuição possível, se requer uma espécie determinada de intuição, pela qual é dado esse diverso, a minha própria existência não é, sem duvida, um fenómeno (e muito menos simples aparência), mas a determinação da minha existência [omitiu-se um asterisco com correspondente nota de rodapé] só pode fázer-se, de acordo com a forma do sentido interno, pela maneira peculiar em que me é dado, na intuição interna, o diverso que eu ligo; sendo assim, não tenho conhecimento de mim tal como sou, mas apenas tal como apareço a mim mesmo. A consciência própria está, pois, ainda bem longe de ser um conhecimento de si próprio, não obstante todas as categorias que constituem o pensamento de um objeto em geral pela ligação do diverso numa apercepção”

PS1: Há uma ligação muito mais obvia e usual entre a dialética hegeliana e as categorias kantianas que é expressa no Prefacio da Fenomenologia: “O conceito da ciência surgiu depois que se elevou à sua significação absoluta aquela forma triádica que em Kant era ainda carente de conceito, morta, e descoberta por instinto” (p. 55). Penso que Hegel faz ai uma referencia a como as categorias kantianas já revelam um processo dialético na medida em que em sua organização a categoria terceira sempre parece dar conta da primeira e da segunda ao mesmo tempo, e.g.: as três categorias de modalidade: (1) possibilidade – condição formal -, (2) realidade – concordância das condições formais com o conteúdo – e (3) necessidade – interconexão entre as condições formais e de conteúdo -; ou seja, ai tem-se que a necessidade é quase um momento de síntese dialética entre a universalidade abstrata da possibilidade e a materialidade da concordância com o conteúdo da realidade.

PS2: acho que fica faltando uma continuação sobre esse tema na Dialética Negativa. Quando estiver animado prometo uma continuação.

Hegel, Hegel, sim, Hegel!

Conforme o pedido do Diego, eu pretendia publicar uma lista de dez livros que considero importantes para nossa formação como intelectuais. Já tinha elaborado um bom número, discutido uma série de razões para cada livro… até que me dei conta: só há um filósofo que merece ser lido — Hegel. Publico abaixo um post de um moderador Philosophy Forums que explica perfeitamente as razões pelas quais Hegel é o maior de todos os filósofos (nay, maior de todos os humanos!); nem o Diego poderá discordar disso depois de lê-lo.

By Tobias:

The person you are all looking for, but have overlooked somehow, is of course Hegel. Yes, Hegel. Hegel is the greatest Hegel is the man. It is true, the greatest philosopher ever lived was Hegel. No other than Hegel. It is Hegel all the way down. Philosophy has never been the same since Hegel. Sometimes I think that philosophy and Hegel are synonimous and only Kant needs an honorable mention for having prepared thought for the coming of Hegel. After Hegel? Nothing, nihilist void. No wonder also after philosophy climed that mountain that is Hegel it found itself on a precipice. Shame that you didn’t camp somewhat longer on this lovely Plateau up in the sky that is Hegels thought.

Lets take it a branch at the time: Following Lodestone
Most inflluential: Hegel. Every philosophy practiced today is a reaction against Hegel. Both analytic and existentialist or phenomenology, all up against Hegel. Picknicking in the shadow of the mountain as it were….

practical Hegel. What do we want, we want women. First thing you have to know about approaching women is the Heglian formula that you are what you are not and are not what you are. Go to the dame of your choice and conspiciously not flirt with her, talk about all kinds of dry matters and laugh shyly when she steers the conversation towards sex (she will). She will think you are charming. Don’t tell her you are a philosopher — she will think you are a geek—, but pretend that you don’t know anything and she will think your philosophical, worked for Socrates too. Now agree, you cannot have philosophy more practical than helping you get laid…

innovative Hegel. Although here he will have to share honours with Kant, fair is far. Kant showed the way to a new metaphysics and Hegel created it, yes that is teamwork, or should I say Team Spirit?

ethics Has to be hegel. Who else could explain so precisely the tension between being a particular person in a universal political sphere? Who else did so clearly recognize that you are only insofar as you are for others? Ethics and Hegel, two hands on the same belly as we say in Holland.

metaphysics There can be only one…. it is…. Hegel!!! All articulations of being schematized. You will not only get boring old being, but also being as itself, being in itself, being for itself, dasein, essence (Wesen in german, that is another kind of being) and of course the Absolute. Now if that is not metaphysical value for money, I don’t know what is.

epistemology Well, my bet would be Hegel. Not only do you get the Absolute, you also get a way and a roadmap to it. If you just heed the dialectic you will eventually end up where you want to be. Now there is epistemology for you, practical and concrete from here to there.

Political philosophy Atually I think Hegel is a strong contender for this
one. Read his Grundlinien and you knwo exactly what the relation is between politics, law and the individual. Now that is all you want from decent political philosophy no?

All in all, all taken together and weight with the absolutely objective eye, I think hegel is the best philopher. Now throw away all this analytical rubish, free yourself from Heidegger, Sartre and Husserl and run to the nearest bookstore, because a nicely published cassette with Hegels main works has just hit the shelves. And after you have spend your life reading them (yes they are long) you will finally be able to die in peace, knowing that Hegel has said all you need to know and all there is to know….

I propose a toast to Hegel!

Blake, Nietzsche e a Era de Aquário

Em sua mitologia, Blake cria a figura de Urizen. Tendo seu corpo forjado por Los (poesia/impulso artístico/profeta) Urizen cria não do nada, mas do mundo infinito de seres infinitos um canto seu, a Terra. Um mundo de finitude, regras, leis. Horrorizados, os outros espiritos cobrem esse mundo com um véu (a ciência). Os quatro filhos de Urizen são Terra Fogo Agua e Ár, e seu filho fogo acaba por castrá-lo, tirando assim sua parte profícua, que se torna uma bela mulher atormentada, “a” pecado (sin). Urizen finalmente lança suas teias pelo mundo, a religião, e a percepção de todos os seres vai então sendo limitada e diminuída, até que chega num mínimo, os cinco sentidos. E nada mais.

A saída disso nos é dada por Blake em duas horas. Uma, na voz do diabo:

“Those who restrain desire, do so because theirs is weak enough to be restrained; and the restrainer or reason usurps its place & governs the unwilling.”

“…the whole creation will be consumed and appear infinite and holy, whereas it now appears finite & corrupt.

This will come to pass by an improvement of sensual enjoyment.

[…]

If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite.

For man has closed himself up, till he sees all things thro’ narrow chinks of his cavern.”

E outra no dia do julgamento final, onde a própria figura do Urizen abandona seus instintos tirânicos, e é recompensado com sua antiga forma. Aceita então uma coexistência pacífica com os outros instintos humanos.

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Nietzsche entre outras coisas versa sobre essa mesma tirânia da razão. Ele a chama de impulso de verdade, e diz que é um sentimento asceta-cristão, um produto da bile acumulada que sublima em má consciência intelectual. Uma jogada ousada naquele eterno jogo de forças que é o mundo, uma busca por dominação sobre os outros, e principalmente uma forma de dominação sobre si mesmo. Assim como Blake, Nietzsche vai nos falar da irônia dessa obcessão chegar mesmo a nos deixar certas verdades inalcançáveis (a crítica da moral por exemplo), e os dois concordam inteiramente que ela é um fenômeno paralelo ao religioso (mas não espiritual!), e ambos afirmarão que o ascetismo é que dá origem a essa razão tirânica (“This will come to pass by an improvement of sensual enjoyment”). Freud vai reproduzir essa idéia ipsis literis em uma carta resposta ao Einstein quando esse pergunta como se poderia evitar a guerra, e aquele responde que dado o homem ser apenas pulsão de morte e pulsão de sexo, só um aumento da pulsão sexual poderia fazer o homem pensar menos, e principalmente agir menos belicosamente. Me pergunto se leu essa carta quem inventou o slogam “Make love, not war”.

Mais interessante ainda é essa última associação. Os Hippies além desse moto tinham se apropriaram da crença astrológica que o mundo vive um ciclo de idades astrológicas que influenciam e criam uma certa consciência global. É claro que é possível ler isso como uma cristalização de um Zeitgeist, embora essa leitura não nos dá a vantagem da vidência. Os maias também têm esse idéia de ciclos (eram ótimos astrônomos), e embora sejam calendários diferentes, os dois dão uma data importante, 2012 (na verdade no astrológico canônico 2012 seria o primeiro ponto alto de uma influênica que já começou a ser sentida).

Estariamos passando da idade de Peixes, era que simboliza um rápido desenvolvimento tecnológico, uma relativa paz frente a era de áries (pense nos assírios) e principalmente, a era da cristandade. Um dos conflitos dessa era é entre o livre-arbítrio contra as determinações divinas, um conflito que o cristianismo tenta fazer uma saída a Hegel, afirmando os dois possíveis. A marca dessa era é a dualidade.

Já em aquário individualidade se aprofundaria. Urano, o regente dessa era privilegia a intuição(knowledge above reason). Mais outras muitas coisas, bla bla ba… Mas principalmente, a razão-religião deixaria de tiranizar todos os outros impulsos e a humanidade encararia a espiritualidade de uma forma mais particular, mais “protestante”(no bom sentido). O ódio contra o corpo, a misoginia, todas essas caracteristicas ascetas perderiam lugar.

(Improvement of sensual enjoyment. A próxima vez que baterem uma punheta na internet pensem o quanto vocês estão colaborando para a paz mundial!)

Você pode pensar piscianamente nesse texto e imaginar que as leituras esotéricas como astrologia são cristalizações conceituais de zeitgeists, espíritos (não metafisicos, transcententes, espíritos como “O espírito das leis” de Montesquieu). Que esses fenômenos são muito melhores explicados por Nietzsche, o ser com mais rigor científico nessa lambança toda. Pode continuar pensando piscianamente e imaginar que todo nosso Zeitgeist, nossa vida e destino e idéias são causados por astros malucos e sem sentido pululando no céu. Mas esse é exatamente o tipo de questão que se dissolve de acordo com a nova mentalidade.

Abominação

Peguei isso do Hermenauta, ele é bom nisso.

Mas veio do blog do Reinaldo Azevedo. Eu acho que nem merece comentários. É só ver os talentos e a crítica de tradução do homem para ter certeza que homem aqui é um eufemismo por falta de vocábulo melhor para forma de vida tão rastejante.

CHE GUEVARA, A VEJA E A ANATOMIA DE UMA FARSA ESQUERDOPATA

A canalha está em festa. No dia 3 de outubro, a revista VEJA publicou um excelente texto de Diogo Schelp, editor de Internacional, e Duda Teixeira por ocasião dos 40 anos da morte do Porco Fedorento e mito sexual das esquerdas Che Guevara — aquele do tal “endurecer sem perder a ternura”. Já que tudo em Che vira mercadoria barata — até seus biógrafos —. a frase deveria ser adotada como lema do Viagra. Uma das fontes usadas como referência no texto (íntegra aqui) foi o livro Che Guevara – Uma Biografia, do americano Jon Lee Anderson.

O link está aí, aberto a quem quiser ler. O nome de Anderson foi citado apenas duas vezes na reportagem. Schelp e Teixeira ouviram muitas outras pessoas. E, até onde se sabe, Anderson não se tornou dono do biografado. Mas ele não gostou da reportagem, que diz ter lido, e mandou a um grupo de jornalistas brasileiros um e-mail supostamente enviado a Schelp — nunca chegou — que é um monumento à prepotência e à vaidade ferida. Mas os adoradores de Che da imprensa brasileira foram tomados de ternura pela dureza do americano… Fizeram a festa em seus bloguinhos mixurucas, divulgando, ademais, uma tradução energúmena do texto de um vagabundo moral.

Esta mensagem que segue, em inglês, é a versão que está circulando por aí e que nunca entrou na caixa de mensagens do editor de VEJA. Na seqüência, leiam a tradução petralha e depois a do está, de fato, escrito. Ainda voltarei. Estamos no começo da revelação de uma impostura.

Dear Diogo,
I was intrigued as to why I never heard back from you when I replied to this email you sent me (see below). And then I saw the article you wrote in Veja, which was the most one-sided perspective on a contemporary political figure I have seen in a long time. It was precisely this kind of highly-editorialized reporting, either hagiographically in favor, or — as in your case — demonizingly against, that led me to write my biography. I sought to put some flesh and blood on Che’s overly-mythified bones in order to understand what kind of person he really was. What you have written is an OpEd piece camouflaged as a piece of accurate journalism, which, of course, it is not. Honest journalism, to my knowledge, involves incorporating different sources of information and perspectives, and attempting to place the person or situation you are writing about into context, so as to educate your readers with at least a semblance of objectivity. What you have done with Che is equivalent to writing about, say, George W. Bush, and relying almost entirely on quotes from Hugo Chavez and Mahmoud Ahmadinejad to bolster your own point of view. I am, glad, in the end, that you did not follow up with me for the interview, because I would have spoken to you in good faith, under the mistaken assumption that you were a serious journalist, and an honest colleague. And In that assumption, I would have been sadly mistaken. Please feel free to publish my letter in Veja if you wish.
Yours, Jon Lee Anderson

A VERSÃO PETRALHA QUE CIRCULA NA REDE

Caro Diogo,
Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é. Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista. No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

O QUE ELE DE FATO ESCREVEU

Caro Diogo,
Estava intrigado de não ter recebido notícias suas depois de ter respondido ao e-mail que você me enviou (segue abaixo). Aí eu vi a reportagem que você escreveu na VEJA, a mais unilateral perspectiva de uma figura política contemporânea que vi em muito tempo. Foi precisamente esse tipo de reportagem super-editorializada, ou uma hagiografia a favor ou – como é o seu caso – uma demonização contra, que me levou a escrever a minha biografia. Procurei pôr um pouco de humanidade na figura supermitificada de Che para entender que tipo de pessoa ele realmente foi. O que você escreveu foi um texto opinativo disfarçado de jornalismo cuidadoso, coisa que evidentemente não é. Jornalismo honesto, segundo meus critérios, implica incorporar diferentes perspectivas e fontes de informação, uma tentativa de pôr a pessoa ou situação sobre as quais se escreve em seu contexto com o objetivo de educar os leitores com um mínimo de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever, digamos, sobre George W. Bush confiando quase inteiramente nas aspas de Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista. Estou contente, por fim, que você não tenha insistido comigo para fazer a entrevista. Eu teria falado com você de boa fé, na suposição errada de que você fosse um jornalista sério, um companheiro honesto. E, nessa suposição, eu estaria tristemente errado. Esteja à vontade para publicar esta carta na VEJA se desejar.
Cordialmente,
Jon Lee Anderson.

A canalha
A canalha pôs na rede um e-mail sem nem mesmo tentar falar com Schelp para saber o que havia acontecido, se as coisas eram como relatava o outro. Ora, pra quê? Observem que negritei algumas palavras das duas versões. “Flesh and blood” vira “pele e osso”??? Não vira. A expressão quer dizer “humanidade”, “natureza humana”, no sentido de que é o oposto do mito — de que ele fala em seguida. “One-sided” quer dizer “unilateral”, não “parcial”. “Accurate journalism” é “jornalismo cuidadoso”, “acurado” — se quiserem uma palavra de mesma raiz. Ora, dirão, é a mesma coisa. NÃO!!! “Imparcialidade” é o mantra petista empregado para satanizar os veículos de imprensa que não fazem a vontade do partido. Anderson não afirma estar feliz por não ter sido entrevistado. Ao contrário. Ele está infelicíssimo. Ele finge estar contente — e a vaidade ferida fica evidente — é com o fato de o jornalista brasileiro não ter INSISTIDO na entrevista. Está na cara que se sentiu desprestigiado. Adiante, falo mais algumas coisas sobre este senhor.

Fiz o que a canalha não fez. Procurei Schelp. Só consegui falar com ele ontem à noite. Queria saber o que tinha acontecido na sua correspondência com Anderson e se havia respondido. Sim. Discreto, avesso a holofotes, ético, não queria me passar a resposta que mandou ao outro. Insisti. Eu o convenci de que estava sendo vítima de uma tentativa nojenta de linchamento, promovida por anões morais. Na conversa, ele me contou algumas outras coisas. Já chego lá. Seguem a resposta do editor da VEJA em português e em inglês. Ainda volto.

Caro Anderson,
Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um e-mail pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua “carta” – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um e-mail circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente. Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado.
Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista.
Sem mais,
Diogo Schelp

Mr. Anderson,
I was wondering, after I sent you an email asking (kindly) for an interview, why I never got an answer from you. Now I know that the message must have been lost because of these anti-spam programs or any other technological reason. I also didn´t receive your “letter” – maybe because of the same problem. All this doesn´t matter anymore, because you decided to solve the issue through the lowest means – a circular email list. What in the world made you think that you had the right to make public our message exchange, including the message where I (kindly) asked for an interview with you? This, Mr. Anderson, is unethical. Coming from someone who calls himself a journalist, it´s astonishing. You may not like the article I wrote; it may be good or bad, well written or not, editorialized or not – but it was not made with the unethical means that you use. I respect the relationship between journalists and sources – you don´t. And more: it seams now to me that you are that kind of journalist that is afraid of making a phone call (I mean that kind of bad journalist), since you have my businesscard and know my phone number. If you had something to say about the article, and since your message was not arriving, you could have called.
I don´t know what kind of personal image you want to create (or protect) denying the facts that your own book shows, but it´s clear now that it is an unethical one.
You can relly on the fact that you are not going to appear in the pages of this magazine again.
Best,
Diogo Schelp

Voltei
Eis aí. Se Anderson mandou mesmo a primeira resposta, ela não chegou. Assim como não chegou a segunda, o que é, para dizer pouco, estranho. De todo modo, ele tinha os telefones do jornalista brasileiro. Já haviam almoçado juntos na Editora Abril. Fosse para dar uma resposta, fosse para manifestar o seu desagrado, poderia ter telefonado. Não o fez. E não o fez porque não tinha nenhum direito de fazê-lo. E se Schelp tivesse desistido de falar com ele? Não poderia? Por que raios seria obrigado a ouvi-lo? Ele não queria conversar, mas expedir a sua fatwa.

Anderson é um canalha. Não pensem que ele mandou o e-mail a Schelp com cópia para todos os outros. Nada disso. Na versão aos “companheiros”, foi também enviada uma introdução, esta que segue: “Fyi, friends — see below my letter to Diogo Schelp of Veja, who published a scurrilous hatchet job on Che Guevara a couple of weeks ago, using the Miami crowd as his main sources. All best, jon lee” Ou: “Amigos, vejam abaixo minha carta a Diogo Schelp, da VEJA, que publicou uma difamação obscena sobre Che Guevara, há duas semanas, usando a turma de Miami como sua fonte principal”. Vangloria-se do malfeito, da grosseria, da estupidez, da arrogância.

Muita atenção agora
Respondam-me: por que este senhor Anderson se julga no direito de enviar uma carta malcriada a Diogo Schelp? Sentiu-se desprezado por não ter sido entrevistado? O texto dos jornalistas brasileiros não é uma resenha ou uma interpretação do seu livro. O “gancho”, como se diz, da reportagem é outro: os 40 anos da morte da besta, completados no dia 9 de outubro. Foram ouvidas na reportagem, diga-se, pessoas com as quais o próprio Anderson conversou. Por falar em Miami, muitas das fontes do americano são de… Miami!!! Aquela gente que ele trata com desprezo. Talvez prefira os humanistas de Fidel Castro.

O que se vê acima é a anatomia de uma empulhação protagonizada por um sujeito vaidoso e com medo do próprio livro e co-estrelada pelos esquerdopatas nativos, que viram no episódio uma chance de tentar se vingar de Diogo Schelp e da revista VEJA, inconformados que estavam com a revelação do berço de estrume em que repousa o seu herói. NOTEM QUE NÃO HÁ UMA SÓ INFORMAÇÃO DO TEXTO DOS JORNALISTAS DA VEJA QUE TENHA SIDO CONTESTADA POR ANDERSON. Nada! Os esquerdopatas exigem a neutralidade de frente para o crime.

Anderson é um caso lamentável em que o caráter do biografado contamina o do biógrafo. Quem quer que tenha lido, como li, o relato de Régis Debray sobre o assassino contumaz, que defendia que o homem se transformasse numa fria “máquina de matar”, movido pelo ódio, não se surpreendeu com o que conta Anderson sobre o Porco Fedorento.

A reação imoral de um sujeito que se julga dono de uma personagem histórica, amplificada pela canalha liberticida que ainda delira com a obra de assassinos contumazes, prova o acerto da abordagem dos jornalistas da VEJA. O mito guevarista, como se sabe, ganhou o mundo e seduz também a esquerda — a possível — dos EUA. Afinal, sabem como é?, ela gosta de ver os chimpanzés ideológicos latino-americanos a debater, ainda, as virtudes do socialismo.

Anderson fez coisa ainda pior. Tornou público o e-mail de Diogo Schelp, que passou a receber e-mails como o desta senhora:

“Caro senhor Diogo Schelp,
Se alguém respeitado me tratasse assim eu me suicidaria.
Cordialmente
XXX”

Eu não tenho dúvida de que é uma legítima guevarista, embora visivelmente lhe falte ternura. E também dureza… É, com efeito, uma esquerdista típica: quando essa gente não está praticando assassinatos, está justificando homicidas. Quando não está fazendo uma coisa ou outra, sugere aos outros o suicídio. Em qualquer dos casos e em qualquer dos tempos da história, as esquerdas têm um compromisso essencial com a morte.

Por isso adoram os cadáveres de seus heróis, que, quando vivos, triunfaram sobre uma montanha de outros cadáveres anônimos. É a forma que nelas tomou o amor pelo “povo”.”

Da importância de se expodirem americanos.

Cena clássica. Você, com algumas leituras avançadinhas e um pouco de visão global. Seu avô, com nada disso mas um bocado de vivência. Cada um com um desprezo pelo tipo de saber do outro tentando se impor entre petiscos natalinos que eventualmente saem voando em alguma tia com alzheimer suficiente pra não conseguir tirá-lo do cabelo, mas de menos para se incomodar.

Ok, ok, de volta ao avô, e ao título. Trouxe isso a tona como experiência pessoal por que me lembro o calor que havia para vencer uma discussão dessas. E as vezes tinha de torcer por piores resultados para que meus prognósticos dessem certo. Algo do tipo, a guerra do Iraque vai ser um grande fracasso, ou, o incidente das torres gêmeas foi a conclusão mais que lógica de anos de assimetria de relações, extorções, chantagens, ameaças a soberania e imperialismo às tortas no “continente” árabe. (pra não parecer anti-americano poderiamos falar das consequencias igualmente nefastas da politica imperial francesa, e pra não acharem ou anacrônico ou direitista demais, extendo essa critica até o Mitterand)

A primeira acusação que vinha pra mim era claramente a falta de compaixão, e que era como se eu desejasse que essas catástrofes acontecessem para que meus prognósticos dessem certo. Em verdade, desejava sim. E o custo humano de uma certa distância começa a parecer irrelevante, já que inevitável em qualquer curso de ação possível.  De qualquer maneira a acusação vira o estômago (sem contar, desqualifica a opinião).

Mas hoje em dia a situação é outra. A situação do Iraque não pode se estabilizar. É horrivel ter de torcer pela morte, nos dois lados. Acho que pro Iraque a coisa realmente ficaria melhor com certa estabilidade, até mesmo do ponto da ingerência externa (é mais facil de se aproveitar daquela colcha de retalhos do que de um  estado coeso). Mas é importante para o mundo que isso não aconteça, e que haja uma debandada americana.

Como muitos (O Nassif até, por exemplo) descrevem por ai, os ataques de 2001 era  situação perfeita para a nova era que previram pra depois do muro de Berlim cair mostrar sua face. Havia marchas em Teerã de condolências, o mundo inteiro se apiedava (apesar da fácil demonstração que aquilo era um joão bobo voltando, como disse lá encima). Mas como Eisenhower já havia afirmado, o maior inimigo americano é sem dúvida o complexo militar-industrial, e os falcões, remanescentes da guerra fria que não tem lugar algum fora do contexto de um conflito, criaram um. E etc, etc, etc.

De novo uma tragédia anunciada. Criou-se rapidamente um militarismo, uma máquina de propaganda e se deu passe livre para que esse grupo fizesse o que achava melhor. O pensamento binário (você quer ganhar essa guerra?sim ou não??!!) evitava que as perguntas importantes fossem feitas, mesmo aquelas táticas!

Assim, só o impacto profundo de uma derrota pode fazer com que a pressão gigantesca de lobby das empresas que participam dos lucros dessa guerra de alguma forma diminua de proporções, e dar aos americanos uma sensação de Vietnã, que compra ao mundo mais umas duas décadas de um pouco de paz.

E até, talvez não só até mas principalmente, deixa as forças americanas reservadas para os verdadeiros inimigos. Inimigos digo aqui, do mundo. Com aquelas forças estenuadas, quem quer contruir uma bomba nuclear sabe que agora é o momento. É um clube que a hora em que se entra, já não se pode ser retirado, e que retaliação é possível num momento como esse?

Esses são os horrores da visão global. Um crime tê-la, maior não tê-la. Ainda bem que não tenho a decisão nas minhas mãos.